Amor, orgulho ferido, desejo de vingança: as emoções que o divórcio traz à tona
Logicamente, o processo é mais acentuado, pelo menos no início, quando não tomamos a iniciativa da separação. Nesse caso, a "sede de vingança" costuma ser explícita. Torcemos para que o outro só tenha relações afetivas desastrosas. Desejamos até mesmo sua ruína profissional. O objetivo dessa atitude é resgatar a autoestima. O fato de tudo dar errado para o ex-parceiro será a prova definitiva da influência positiva que exercíamos em sua vida. Sua felicidade, ao contrário, nos diminuirá. É como se, a partir da separação, fosse necessário encontrar o culpado pelo fracasso do relacionamento.
No entanto, esse mecanismo de comparação também é forte naqueles que decidiram se separar porque se apaixonaram por outra pessoa. Aí, entra em jogo outro tipo de vingança. Se alguém se sentiu, ao longo dos anos em comum, agredido, humilhado, rejeitado, agora é o momento de inverter a situação e sem nenhum esforço: apenas esperando que o destino faça justiça e o opressor se transforme em oprimido.
Não adianta pensar que nunca teremos pensamentos tão mesquinhos. Todos nós, em certas circunstâncias, estamos sujeitos a emoções que consideramos negativas e indignas. Elas se misturam com as mais nobres e formam uma amálgama extremamente complexa.
Amor, orgulho ferido, desejo de vingança... É difícil avaliar o peso de cada um desses ingredientes. Aliás, a diversificação de sentimentos também está presente durante a vida conjugal, quando um dos parceiros se recusa a agradar o outro apenas para não se sentir subjugado e diminuído. A rejeição sexual, por exemplo, pode ser vingada com a humilhação financeira ou vice-versa.
Na hora do divórcio, todos esses processos se exacerbam. Eles geram a gangorra: quando a autoestima de um sobe, desce a do outro. Não basta ser feliz; é preciso que o outro não o seja. A gangorra pode perdurar por vários anos e até mesmo pela vida toda.
*Flávio Gikovate é médico psiquiatra e escritor
Crédito: Mais de 50
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