quarta-feira, 13 de julho de 2011

Resenha crítica do filme Bicho de 7 cabeças, Beatriz Clemente



Uma sinopse muito resumida e humilde do filme Bicho de 7 cabeças: Neto, personagem de Rodrigo Santoro, vive o drama de ter sido internado em um hospital psiquiátrico por seu pai, que o julga e o rejeita pelo seu possível vício em maconha. Entre internações e tentativas de se reestabelecer e reintegrar à sociedade, Neto passa por diversas situações, convivendo no seu dia-a-dia com o preconceito, os medos, as inseguraças e as sequelas causadas pelos intensos e absurdos tratamentos utilizados na tentativa de ser “salvo”.

“O buraco do espelho está fechado, agora eu tenho que ficar aqui. Com um olho aberto, o outro acordado, no lado de lá onde eu caí.” - O espelho citado no trecho, simboliza a busca dos internos pelo seu próprio eu. Excluídos e marginalizados, sentem uma intensa dificuldade de se aceitar, não conseguem se enxergar. Mesmo havendo a possibilidade de se enxergar (olho acordado) e não apenas se ver (olho aberto), algo os prende a uma realidade que não lhes pertence. Essa realidade, vivida no hospital, é tratada como o lado de lá, pois ao mesmo tempo que os incluem em um contexto, não lhes permite nenhum tipo de escolha, nem liberdade, nem direito como indivíduo, diferente daquele ideal de sociedade que encontramos na maioria dos países que acreditam na democracia atualmente. “Pro lado de cá, não tem acesso, mesmo que me chamem pelo nome, mesmo que admitam meu regresso. Toda vez que eu vou, a porta some, a janela some na parede. A palavra, de água, se dissolve…” – Pro lado de cá, representando a sociedade livre por detrás dos muros do hospital, não dá espaço para alguém que por algum motivo, algum dia, foi excluído. Todos aqueles que não se encaixam aos moldes daquela mesma sociedade democrática que deveria prezar pela liberdade, pelo culto às diferenças e pela justiça, e que, a partir do momento em que determina moldes, deixam de praticar tudo aquilo que a conduziu ao seu estado atual, são automaticamente marginalizados, caem facilmente no esquecimento. Assim como tudo, as relações humanas, o respeito pelo outro, o respeito pelo espaço do outro, saíram de moda muito rapidamente, se tornaram “cafona”, descartáveis. Em uma cena no hospital psquiátrico, um “velho louco” entrega a Neto um gorro e diz: “É pra agasalhar aqui.” , apontando para a cabeça. A intenção do velho não é simplesmente proteger o jovem de um resfriado ou algo do tipo, mas sim proteger a cabeça dele, a mente, os pensamentos e os sonhos, mantê-lo fértil e são, protegê-lo não só daquela realidade enlouquecedora vivida naquele hospital, ou dos “loucos”que convivem com eles, mas também da nossa sociedade, cruel, massante, que não permite o erro e nem aceita o pedido de perdão, mas que julga, aponta o dedo e despreza quem mais deveria ter o suporte para ser reinserido. Somos parte de um grande todo, somos iguais, temos qualidades, erramos e exercendo aquilo que seria o ideal de direito, liberdade e justiça, poderíamos viver em um lugar onde não precisaríamos fingir tanto.Escrito por: Beatriz Clemente

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