sexta-feira, 19 de março de 2010

Um saco


Faz alguns anos que tenho vivido muito o mundo virtual e me descuidado do mundo real. 

A televisão tá um saco. De um lado evangelizadores e do outro novelas e BBBs.
Preciso sair. Ir ao cinema, ao teatro, a um show que seja do meu agrado. Era bom sair por aí, ver vitrines de lojas nas ruas da cidade, apreciar as mercadorias disponibilizadas pelos camelôs, experimentar uma roupa, ou um sapato, tomar um sorvete na Ribeira, entrar em uma das muitas igrejas que conheço e naquelas que ainda preciso conhecer. 

Os cinemas de bairro morreram, restam as caixas de fósforos dos shoppings. A rua perdeu o glamour. A rua Chile era a passarela da moda e hoje está quase sem vida. O comércio não é mais o mesmo e tem um monte de prédios largados. A sensação é de abandono. O porto insiste em permanecer em local errado e não temos uma via litorânea que interligue a Ribeira a Itapuã.

Querem uma ponte para Itaparica e o trânsito em Salvador é caótico. Há solução pra tudo e a ligeireza de uma ponte pouco debatida não me parece uma prioridade.
É bem verdade que a Ilha vem sendo devastada e não vejo mais aquele tapete verde que revestia seu belo relevo. A Ilha está ficando careca pelo acentuado desmatamento. Isso não justifica a construção de uma ponte. Existem outras alternativas recomendáveis.

Se for passear pela cidade verei coisas belas, mas não deixarei de verificar os contrastes e contradições nela existentes. 

Passear de carro pela Av. Gal Costa nos conduz a uma cidade - que não deixa de ser bonita - favelizada. Um amontoado de casas, com becos estreitíssimos, escadas, ladeiras sinuosas, como se fosse um cortiço em mega escala. Ali o Estado vive ausente e as leis que imperam são as leis da selva, como se os espiritos dos índios (trucidados) e dos escravos (supliciados) ali se achassem em busca de uma vingança ignóbil, mas vendo aquele mundo à parte, enquanto observo a outra cidade ( rica, ou quase, ou querendo ficar rica)  e acabo por verificar quantos erros cometemos em nosso silencio, de quase conivência, com o "deixa estar" legado pelos governantes e legisladores desta cidade.

Reclamamos de tudo. Nos queixamos da violência urbana. Nunca procuramos humanizarmo-nos, quanto mais humanizarmos o que precisa, não de máquinas, mas de humanidade, como diria Chaplin em seu Último Discurso, de O Grande Ditador.
Não pretendo ser líder de nada, mas devo permanecer atento e cobrar satisfação das autoridades públicas. Pra que eu quero uma ponte se aqui temos tantos e tantos problemas para serem resolvidos? Depois não me venham falar mais em pedágios para transitarmos pelo que deve ser um bem público. Volto ao mundo virtual. Entre o céu e o inferno fico no purgatório.

SPH / LLF
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