sexta-feira, 1 de julho de 2011

COMPLEXO DE EDIPO E A "SINDROME" DO PAI AUSENTE

Por: João H. L. Ferreira

Em seus estudos sobre o inconsciente, Freud traça um paralelo entre a estória de Édipo Rei, da antiga grécia, e a formação do psiquê humano; lançando as bases do que viria a ser denominado Complexo de Édipo.

Desde a sua formulação pelo velho Freud, estudisos vem se debruçando sobre o tema, aprofundando as reflexões de mestre.

O complexo de Édipo se desenvolve ao longo da vida do indivíduo.

Caracterizado pelo escolha que o indivíduo deve fazer, perante o conflito entre as exigências impostas por forças exógenas (Família, sociedade, religião, leis, etc...), de continência ao prazer individal, e o desejo do indivíduo pelo prazer sem limites; o Édipo mal resolvido pode ser fonte de angustias, neuroses, perversões e outras formas de distúrbios psíquicos e de comportamento.

No seu processo de amadurecimento, Paradoxalmente, o indivíduo opta em limitar o seu prazer pela garantia de mantenção do próprio prazer, ou, pelo menos, de parte do prazer que lhe é permitido por essas mesmas forças exógenas (Do convívio social, da aceitação, integração no grupo a que pertence, etc....) passa a ser garantido quando o indivíduo limita-se a obter esse prazer dentro das limitantes que lhe são impostas. Essa submissão é uma das possíveis saídas do Édipo e se dá na infância; sendo chamada de latência.

Através da abstinência, ou a da continência dos prazeres (Ou de situações prazerosas), abstendo-se de obter prazer de modos e em condições que não lhe são permitidos, o indivíduo mantém a possibilidade de obter prazeres que não lhe são negados; ou até mesmo oferecidos em contrapartida aqueles que ele se abstem de obter voluntariamente.
No modelo de Édipo criado por Freud, a busca do prazer é representada pelo desejo para com a mãe; e a sua negação pelas forças exógenas é representada pela figura paterna; que, detentora do poder, afasta a criança da mãe (Sua fonte de prazer); havendo a disputa entre os dois pelo tempo dispensado pela mesma.

Dessa forma, as situações de negação de prazer por forças externas, é remetido à situações vivenciadas na infância de disputa da criança com o pai pelo tempo e atenção que lhe é dada pela mãe.

No clássico grego, a saída do Édipo se dá quando o filho (Édipo) mata o próprio pai (Lion) e toma a própria mãe (Jocasta). Esse ato tem como conseqüência o condenar de Édipo a vagar sozinho sem rumo após ele mesmo ter furado os seus próprios olhos em castigo.

Assim, o clássico de Édipo Rei, nos remete ao aviso de que, a procura do prazer sem restrições, sem considerar o outro (Nos tornando cegos para o mundo à nossa volta) nos leva enexoravelmente à solidão pela exclusão do convívio social, o qual deixamos de respeitar na nossa procura por esse mesmo prazer.

Creio que a saída saudável para o Édipo é o indivíduo, ao se tornar adulto, entender que as regras (Forças exógenas) não tem carater onipotente; ou seja: As regras são referenciais feitas pelas Homens (Seres humanos ADULTOS) para a manutenção do convívio social e podem (E devem) ser negociadas entre os membros de uma mesma sociedade. Ao tomar o seu lugar na sociedade, como ser humano adulto, a ex-criança, agora adulta, se torna também PAI (Inclusive no sentido biológico), emanador das regras negociadas com seus iguais.

Entendido tudo isso, gostaria de analisar uma situação especial de Édipo que é o PAI AUSENTE.

Não raro, dentro da nossa sociedade, a figura do PAI AUSENTE se dá ou por separação ou por morte do mesmo. O PAI AUSENTE, depedendo da família, pode se tornar MAIS PRESENTE do que se fisicamente estivesse convivendo com a família em sua normalidade.

O que apelidarei aqui de "SINDROME DO PAI AUSENTE" se dá quando, ao sentir-se impotente para a manutenção da disciplina da prole, a mãe evoca a presença de um PAI VIRTUAL, que passa a existir dentro da família. Frases como: SE O SEU PAI ESTIVESSE AQUI... ou O SEU PAI MANDOU..... ou NEM PARECE QUE É FILHO DE FULANO.... e assim por diante incutem na criança um PAI VIRTUAL sempre presente e muito mais "castrador" do que um pai físico, com o qual ele possa se confrontar na procura de seus limites e identidade.

Dessa forma, o PAI AUSENTE se torna na verdade um PAI UNIPRESENTE; existente em todo o lugar; virtuoso e sem defeitos, incansável e imbatível; que o filho, por nunca poder derrotar ou superar, se rende e se submete. Esse "super pai" acompanha o seu filho por toda a vida; que procurando "agradá-lo", para obter a sua aprovação (Que nunca conseguirá), se torna o exemplo de "bom filho"; sempre obediente às regras, as leis, aos horários; se submetendo à imposição das forças exógenas; gerando o que se pode chamar da "SINDROME DO ETERNO FILHO".

A "Sindrome do Eterno Filho", na vida adulta, é reforçada com elogios tais como "Seu pai ficaria orgulhos de você". "Você é um modelo para os seus irmãos e colegas". "Queria ter um filho assim". "Você é o filho que eu nunca tive"; e assim por diante. Além de reforços externos, o indivíduo se vê compelido a continuar como ETERNO FILHO pelas vantagens que isso lhe trás; tais como:

1) Ele não tem que assumir uma posição de adulto; fazendo escolhas (Uma escolha sempre implica em não realizar uma das possibilidades- Aquela preterida- E por isso gera um sentimento de perda).

2) O indivíduo NUNCA É CULPADO; pois se sempre faz o que lhe pedem, ele não pode ser culpado pelas conseqüências do que advém de errado na sua vida. Assim o culpado é SEMPRE O OUTRO.

3) O indivíduo não necessita pensar; somente obedecer. Alguém sempre lhe dirá o que fazer.

4) Sentimento de impotência para resolver os problemas sociais e institucionais (Afinal a sociedade e as instituição são o grande "pai" , e não se deve desafiar o pai).

Dessa feita; deve-se lembrar que, nos dias de hoje, o pai está AUSENTE não somente por condições de morte ou separação. Em muitas famílias, hoje temos pais que, mesmo vivos e casados, se encontram ausentes; não participando da vida familiar; repassando esse modelo para os seus filhos. O pai ausente é uma das poucas condições que não permitem a saída completa do Édipo; podendo desencadear esses e outros problemas da "sindrome" acima; fazendo com que a pessoa se torne o "eterno filho"; sem assumir a sua posição de adulto responsável e SUJEITO do próprio DESTINO. É o sentenciar do sujeito á eterna posição de vítima; de objeto e força de manobra das instituições, que em nossa sociedade se encontra tomada por forças inenarrávéis.

Assim, por ser potencialmente benéfico aos sistemas (Que são PAIS SEMPRE PRESENTES), a "sindrome do pai ausente" pode estar sendo introjetada dentro da nossa sociedade por grupos que tem muito a ganhar com isso (Creio que mesmo que inconscientemente, todos nós procuramos aquilo que nos traz prazer e felicidade). Fica aqui um ponto de alerta e reflexão para os psicólogos e pais: Estamos formando uma sociedade de "ETERNOS FILHOS".....

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