sábado, 16 de julho de 2011

Carta

Carlos Drummond de Andrade




Há muito tempo, sim, que não te escrevo,
ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: olha em relevo,
esses sinais em mim, não de carícias

(tão leves) que fazias em meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida ao teu menino, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
"Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.

É quando ao despertar, revejo a um canto 
a noite acumulada de meus dias.
e sinto que estou vivo, e não sonho.
                                   
                                             (Lições de Coisas)

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