sábado, 30 de julho de 2011

Ortega y Gasset - A Rebelião das Massas


O Homem-Massa

Numa boa ordenação das coisas públicas, a massa é o que não actua por si mesma. Tal é a sua missão. Veio ao mundo para ser dirigida, influída, representada, organizada – até para deixar de ser massa, ou, pelo menos, aspirar a isso. Mas não veio ao mundo para fazer tudo isso por si. Necessita referir a sua vida à instância superior, constituída pelas minorias excelentes. Discuta-se quanto se queira quem são os homens excelentes; mas que sem eles – sejam uns ou outros – a humanidade não existiria no que tem de mais essencial, é coisa sobre a qual convém que não haja dúvida alguma, embora leve a Europa todo um século a meter a cabeça debaixo da asa, ao modo dos estrúcios para ver se consegue não ver tão radiante evidência. Porque não se trata de uma opinião fundada em factos mais ou menos frequentes e prováveis, mas numa lei da  " física "  social, muito mais incomovível que as leis da física de Newton. No dia em que volte a imperar na Europa uma autêntica filosofia – única coisa que pode salvá-la –, compreender-se-á que o homem é, tenha ou não vontade disso, um ser constitutivamente forçado a procurar uma instância superior. Se consegue por si mesmo encontrá-la, é que é um homem excelente; senão, é que é um homem-massa e necessita recebê-la daquele.


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Trecho de Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto


Atenção peço, senhores,
também para minha leitura:
também venho dos Egitos,
vou completar a figura.
Outras coisas que estou vendo
é necessário que eu diga:
não ficará a pescar
de jereré toda a vida.
Minha amiga se esqueceu
de dizer todas as linhas
não pensem que a vida dele
há de ser sempre daninha.
Enxergo daqui a planura
que é a vida do homem de ofício,
bem mais sadia que os mangues,
tenha embora precipícios.
Não o vejo dentro dos mangues,
vejo-o dentro de uma fábrica:
se está negro não é lama,
é graxa de sua máquina,
coisa mais limpa que a lama
do pescador de maré
que vemos aqui vestido
de lama da cara ao pé.
E mais: para que não pensem
que em sua vida tudo é triste,
vejo coisa que o trabalho
talvez até lhe conquiste:
que é mudar-se destes mangues
daqui do Capibaribe
para um mocambo melhor
nos mangues do Beberibe.

A MULHER DE ROXO


A MULHER DE ROXO
Dona Florinda Grandwzester era uma das personalidades mais conhecidas do povo baiano e visitantes. Seu nome está vinculado ao folclore e à cultura popular, e sua figura ilustrou folhetos e cartazes de festas tradicionais como o carnaval. Trata-se da denominada “Mulher de Roxo” que por muitos anos marcou presença nas avenidas do centro, principalmente entre a Rua Chile e o Terreiro de Jesus. Trajando uma espécie de hábito roxo e portando um enorme crucifixo no pescoço, ela começou a ser esquecida, exatamente, quando a doença prostou-a na sarjeta e os pés ulcerados começavam a apodrecer. Recolhida e internada na unidade médico-social de Irmã Dulce, recebeu tratamento necessário e restabelecida conviveu com as demais internas sem perder o bom humor e a personalidade que sempre a caracterizaram. Sempre misteriosa quanto a seu passado, dizia ter nascido em 1935 e ter sido professora em Periperi. Faleceu em 05/04/1997.
(SILVA, Cecília Luz da, A cidade do Salvador nos seus 454 anos, Editora da Universidade do Estado da Bahia, Salvador, 2005)

MULHER DE ROXO
(Alex Simões - 1993)

Não me espanta a solidão da vida
nem me amedronta o tédio do normal,
pois sei da angústia que te faz igual
a mim, da bofetada enfurecida

que levamos na trilha mal seguida
e tão marcada pela mão do Mal
que nos fizemos, por não sermos tal
como devíamos: de fronte erguida

e peito aberto, irmãos e confiantes.
No entanto somos desiguais, distantes
de nossos corações que nem sentimos.

Por isso o tapa que a vida me deu
e a dor que todos nós nos repartimos
devolvo em dobro no semblante teu.

Crédito: Salvador, Cultura Todo Dia

terça-feira, 26 de julho de 2011

Padre Antônio Vieira, Frases famosas


PALAVRA, SILÊNCIO:

“É cousa tão natural o responder, que até  os penhascos duros respondem e para as vozes têm ecos. Pelo contrário, é tão grande violência não responder, que aos que nasceram mudos fez a natureza também surdos, porque se ouvissem, e não pudessem responder, rebentariam 
de dor” 
(Cartas, 1971, t. III, p. 572);
 

JUSTIÇA:
 "Não hei de pedir pedindo, senão protestando e argumentando; pois esta é a licença e liberdade que tem quem não pede favor senão justiça”
(Sermões,1959, t. III, p. 329);

LIVRO:“O livro é um mudo que fala; um surdo que responde; um cego que guia; um morto que vive; e não tendo ação em si mesmo, move os ânimos e causa grandes efeitos” (Sermões, 1959, t. X, p. 57);

OLHOS:“Os olhos têm dois ofícios: ver e chorar; e mais parece que os criou Deus para chorar, que para ver, pois os cegos não vêem e choram” (Sermões, 1959, t. IV, p. 274);

OPINIÃO:
“Até entre os anjos pode haver variedade de opiniões, sem menoscabo de sua sabedoria, nem de sua santidade” 
 (Sermões, 1959, t. IV, p. 216)

CORAÇÃO:

“Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, 
 
são necessárias obras” (Sermões, 1959, t. I, p. 15).

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Esquecimento

Posted by Picasa

Lição de Adversidade



Dois importantes fatos, nesta vida, saltam aos olhos; primeiro, que cada um de nós sofre inevitavelmente derrotas temporárias, de formas diferentes, nas ocasiões mais diversas. Segundo, que cada adversidade traz consigo a semente de um benefício equivalente. Ainda não encontrei homem algum bem-sucedido na vida que não houvesse antes sofrido derrotas temporárias. Toda vez que um homem supera os reveses, torna-se mental e espiritualmente mais forte... É assim que aprendemos o que devemos à grande lição da adversidade. 

Andrew Carnegie a Napoleon Hill

domingo, 24 de julho de 2011

Renove-se



Reconheça a pessoa especial, forte, talentosa, guerreira e poderosa que você se transformou Sinta-se renovado, preparado e potencializado no dia de hoje. Isso mesmo, sinta tudo isso e vá em frente. 

Chegou a hora de encarar uma nova etapa, pois é tempo de se refazer e, se for preciso, sair das cinzas! 
Você pode, você é capaz! Você merece! Retome todos aqueles antigos e bons sonhos e dê a você mesmo mais uma oportunidade. 

Agora é a sua hora de recomeçar para fazer florir a sua vida. Viva de novo, mas de uma maneira diferente, do seu jeito! Hoje não é nenhuma data especial e nem precisa ser para celebrar a vida. 

Mas você está se encontrando um pouco mais com você e percebe que pessoa especial, forte, talentosa e bonita você é! Vamos! Bote fé em si mesmo! Bote fé nessa criatura linda, competente e guerreira que você sabe que é! Um novo ânimo, tá? Tenha mais esperança, mais alegria e mais amor! 

E para conquistar isso basta um estalar de dedos. Basta querer. É uma questão de jeito que você sabe que tem. E vontade nunca lhe faltou, certo? Festeje, celebre e comemore por ter chegado até aqui. Esse ser maravilhoso e que venceu tantas batalhas se transformou, agora vale ouro! Vale muito! É tudo de bom! É 10 porque está no caminho certo! Valorize-se mais, ok? 

Nunca mais se compare a ninguém. Não vale a pena! Você é único! Explore mais as suas possibilidades, tá? E comece a se perguntar mais: "O que é possível?" E transforme seus sonhos em realidade porque você merece e sabe que pode e que merece. Lembre-se sempre que a prosperidade está te esperando. 

O seu íntimo deve refletir isso no seu sorriso de hoje.

Crédito: otimismo em rede

sábado, 23 de julho de 2011

Morreu Amy Winehouse


Globo.com - G1 - Atualizado em 23/07/2011 17h00

Cantora Amy Winehouse é encontrada morta em Londres
Polícia confirmou que encontrou corpo da cantora em sua casa. Ela morreu aos 27 anos; Álbum 'Back to black' ganhou 5 prêmios Grammy.

Leia mais

Sensação de Morar em Casa, Chico Xavier



A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, 
numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos. 
A gente pode dormir numa cama mais ou menos, 
comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, 
e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro. 
A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos... 
TUDO BEM!
O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum... 
é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, 
ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, 
ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos. 
Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.

Cecília Meireles, Única sobrevivente



Única sobrevivente
de uma casa desabada
- só eu me achava acordada.

E recordo a minha gente,
na noite sem madrugada.
Só eu me achava acordada.

Minha morte é diferente:
eles não souberam nada.
Só eu me achava acordada.

Mas quem sabe o que se sente,
entre ir na casa afundada
e ter ficado – acordada!?


Cecília Meireles
In: Canções

Cecilia Meireles

"Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: Silêncio e Solidão. Essa foi sempre a área da minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde relógios revelaram o segredo de seu mecanismo e as bonecas, o jogo do seu olhar (...)."

MEIRELES, Cecília: Obra Poética, Rio de Janeiro, Nova Aguillar


sexta-feira, 22 de julho de 2011

Se escola fosse estádio e educação fosse Copa, por Jorge Portugal



Passei, nesses últimos dias, meu olhar pelo noticiário nacional e não dá outra: copa do mundo, construção de estádios, ampliação de aeroportos, modernização dos meios de transportes, um frenesi em torno do tema que domina mentes e corações de dez entre dez brasileiros.

Há semanas, o todo-poderoso do futebol mundial ousou desconfiar de nossa capacidade de entregar o “circo da copa” em tempo hábil para a realização do evento, e deve ter recebido pancada de todos os lados pois, imediatamente, retratou-se e até elogiou publicamente o ritmo das obras.

Fiquei pensando: já imaginaram se um terço desse vigor cívico-esportivo fosse canalizado para melhorar nosso ensino público? É… pois se todo mundo acha que reside aí nossa falha fundamental, nosso pecado social de fundo, que compromete todo o futuro e a própria sustentabilidade de nossa condição de BRIC, por que não um esforço nacional pela educação pública de qualidade igual ao que despendemos para preparar a Copa do Mundo?

E olhe que nem precisaria ser tanto! Lembrei-me, incontinenti, que o educador Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação e hoje senador da República, encaminhou ao Senado dois projetos com o condão de fazer as coisas nessa área ganharem velocidade de lebre: um deles prevê simplesmente a federalização do ensino público, ou seja, nosso ensino básico passaria a ser responsabilidade da União, com professores, coordenadores e corpo administrativo tendo seus planos de carreira e recebendo salários compatíveis com os de funcionários do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal. Que tal? Não é valorizar essa classe estratégica ao nosso crescimento o desejo de todos que amamos o Brasil? O projeto está lá… parado, quieto, na gaveta de algum relator.

O outro projeto, do mesmo Cristovam, é uma verdadeira “bomba do bem”. Leiam com atenção: ele, o projeto, prevê que “daqui a sete anos, todos os detentores de cargo público, do vereador ao presidente da República serão obrigados a matricular seus filhos na rede pública de ensino”. E então? Já imaginaram o esforço que deputados (estaduais e federais), senadores e governadores não fariam para melhorar nossas escolas, sabendo que seus filhos, netos, iriam estudar nelas daqui a sete anos? Pois bem, esse projeto está adormecido na gaveta do senador Antônio Carlos Valladares, de Sergipe, seu relator. E não anda. E ninguém sabe dele.

Desafio ao leitor: você é capaz de, daí do seu conforto, concordando com os projetos, pegar o seu computador e passar um e-mail para o senador Valadares (antoniocarlosvaladares@senador.gov.br) pedindo que ele desengavete essa “bomba do bem”? É um ato cívico simples. Pela educação. Porque pela Copa já estamos fazendo muito mais.

Jorge Portugal é educador, poeta e apresentador de TV. Idealizou e apresenta o programa “Tô Sabendo”, da TV Brasil.

Fonte: Terra Magazine

Sheila Raposo, Jornalista


VERGONHA QUE NÃO TENHO DE SER NORDESTINA
Cultivado entre os cascalhos do chão seco e as cercas de aveloz que se perdem no horizonte, cresceu, forte e robusto, o meu orgulho de pertencer a esse pedaço de terra chamado Nordeste.
Sou nordestina. Nasci e me criei no coração do Cariri paraibano, correndo de boi brabo, brincando com boneca de pano, comendo goiaba do pé e despertando com o primeiro canto do galo para, ainda com os olhos tapados de remela, desabar pro curral e esperar pacientemente, o vaqueiro encher o meu copo de leite, morninho e espumante, direto das tetas da vaca para o meu bucho.
Sou nordestina. Falo oxente, vôte e danou-se. Vige, credo, Jesus-Maria e José! Proseio com minha língua ligeira, que engole silabas e atropela a ortoépia das palavras. O meu falar é o mais fiel retrato. Os amigos acham até engraçado e dizem sempre que eu “saí do mato, mas o mato não saiu de mim”. Não saiu mesmo! E olhe: acho que não vai sair é nunca!
Sou nordestina. Lambo os beiços quando me deparo com uma mesa farta, atarracada de comida. Pirão, arroz-de-festa, galinha de capoeira, feijão de arranca com toucinho, buchada, carne de sol... E mais uma ruma de comida boa, daquela que, quando a gente termina de engolir, o suor já está pingando pelos quatro cantos. E depois ainda me sirvo de um bom pedaço de rapadura ou uma cumbuca de doce de mamão, que é pra adoçar a língua. E no outro dia, de manhãzinha, me esbaldo na coalhada, no cuscuz, na tapioca, no queijo de coalho, no bolo de mandioca, na tigela de umbuzada, na orêa de pau com café torrado em casa!
Sou nordestina. Choro quando escuto a voz de Luiz Gonzaga ecoar no teatro de minhas memórias. De suas músicas guardo as mais belas recordações. As paisagens, os bichos, os personagens, a fé e a indignação com que ele costurava as suas cantigas e que também são minhas. Também estavam (e estão) presentes em todos os meus momentos, pois foi em sua obra que se firmou a minha identidade cultural.
Sou nordestina. Me emociono quando assisto a uma procissão e observo aqueles rostos sofridos, curtidos de sol do meu povo. Tudo é belo neste ritual. A ladainha, o cheiro de incenso. Os pés descalços, o véu sobre a cabeça, o terço entre os dedos. O som dos sinos repicando na torre da igreja. A grandeza de uma fé que não se abala.
Sou nordestina. Gosto de me lascar numa farra boa, ao som do xote ou do baião. Sacolejo e me pergunto: pra quê mais instrumento nesse grupo além da sanfona, do triangulo e da zabumba? No máximo, um pandeiro ou uma rabeca. Mas dançar ao som desse trio é bom demais. E fico nesse rela-bucho até o dia amanhecer, sem ver o tempo passar e tampouco sentir os quartos se arriando, as canelas se tremelicando, o espinhaço se quebrando e os pés se queimando em brasa. Ô negócio bom!
Sou nordestina. Admiro e me emociono com a minha arte, com o improviso do poeta popular, com a beleza da banda de pífanos, com o colorido do pastoril, com a pegada forte do côco-de-roda, com a alegria da quadrilha junina. O artista nordestino é um herói, e nos cordéis do tempo se registra a sua história.
Sou nordestina. E não existe música mais bonita para meus ouvidos do que a tocada por São Pedro, quando ele se invoca e mete a mãozona nas zabumbas lá do céu, fazendo uma trovoada bonita que se alastra pelo Sertão, clareando o mundo e inundando de esperança o coração do matuto. A chuva é bendita.
Sou nordestina. Sou apaixonada pela minha terra, pela minha cultura, pelos meus costumes, pela minha arte, pela minha gente. Só não sou apaixonada por uma pequena parcela dessa mesma gente que se enche de poderes e promete resolver os problemas de seu povo, mentindo, enganando, ludibriando, apostando no analfabetismo de quem lhe pôs no poder, tirando proveito da seca e da miséria para continuar enchendo os próprios bolsos de dinheiro.
Mas, apesar de tudo, eu ainda sou nordestina, e tenho orgulho disso. Não me envergonho da minha história, não disfarço o meu sotaque, não escondo as minhas origens. Eu sou tudo o que escrevi, sou a dor e a alegria dessa terra. E tenho pena, muita pena, dos tantos nordestinos que vejo por aí, imitando chiados e fechando vogais, envergonhados de sua nordestinidade. Para eles, ofereço estas linhas.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Casa de campo Burnt Norton


"Burnt Norton" questiona de que adianta considerar o que podia ter sido e não foi. Há nele a descrição de uma casa abandonada, e Eliot brinca com a idéia que todas essas possíveis realidades estão presentes simultaneamente, mas invisíveis para nós: todas as formas de atravessar o jardim se transformam numa vasta dança que não podemos ver, e crianças que não estão ali se escondem nos arbustos. Burnt Norton é uma casa de campo situada em Cotswold Hills, na cidade de Gloucestershire, Reino Unido.
(in Wikipédia)

NOS JARDINS DA MINHA INFÂNCIA, 
MORA UMA INOCENTE CRIANÇA
QUE SEMPRE VOA 
PARA O MESMO LUGAR; 
INCESSANTE, 
BUSCA ENCONTRAR, 
AQUILO QUE FOI 
E NÃO MAIS SERÁ.
NAQUELE LUGAR ENCANTADO, 
UM PEDAÇO DE  MIM
SE MOVE 
E NINGUÉM VÊ.
EIS  MEU MUNDO MÁGICO,
NÃO TEM TIJOLOS AMARELOS
E TUDO PARECE ESTAR DIZIMADO
TUDO, TUDO MORA NESTE GENTIL
LUGAR, ONDE NASCE A INOCÊNCIA
DOS TEMPOS DA MINHA AURORA.
TUDO ESTÁ NO JARDIM SECRETO 
CHEIO DE FLORES CAMPESTRES
DO UMBUZEIRO AGRESTE
ONDE MINHA ALMA
SONHOU A VIDA
E A VIDA OS SONHOS LEVOU
NO BALANÇO DA MINHA ILUSÃO

(llf)



"As palavras movem-se, a música move-se. Apenas no tempo; mas o que apenas vive Apenas pode morrer. As palavras, depois de ditas, Alcançam o silêncio. Apenas pela forma, pelo molde, Podem as palavras ou a música alcançar O repouso, tal como uma jarra chinesa ainda Se move perpetuamente no seu repouso. Não o repouso do violino, enquanto a nota dura, Não isso apenas, mas a coexistência, Ou digamos que o fim precede o princípio, E que o fim e o princípio estiveram sempre ali Antes do princípio e depois do fim. E tudo é sempre agora. As palavras deformam-se, Estalam e quebram-se por vezes, sob o fardo, Sob a tensão, escorregam, deslizam, perecem, Definham com imprecisão, não se mantêm, Não ficam em repouso. Vozes estridentes Ralhando, troçando, ou apenas tagarelando, Assaltam-nas sempre. O Verbo no deserto É muito atacado por vozes de tentação, A sombra que chora na dança funérea, O clamoroso lamento da quimera desconsolada."
T.S. Eliot

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Marisa Monte - Não é Fácil




Não é fácil
Não pensar em você
Não é fácil
É estranho
Não te contar meus planos
Não te encontrar
Todo dia de manhã
Enquanto tomo meu café amargo
É, ainda boto fé
De um dia te ter ao meu lado
Na verdade eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil
Onde você anda
Onde está você
Toda vez que saio
Me preparo pra talvez te ver
Na verdade eu preciso esquecer
Não é fácil, não é fácil
Todo dia de manhã
Enquanto tomo meu café amargo
É, ainda boto fé
De um dia te ter ao meu lado
O que eu faço
O que posso fazer?
Não é fácil
Não é fácil
Se você quisesse ia ser tão legal
Acho que eu seria mais feliz
Do que qualquer mortal
Na verdade não consigo esquecer
Não é fácil
É estranho

domingo, 17 de julho de 2011

Rainer Maria Rilke

O solitário

Não: uma torre se erguerá do fundo
do coração e eu estarei à borda:
onde não há mais nada, ainda acorda
o indizível, a dor, de novo o mundo.

Ainda uma coisa, só, no imenso mar
das coisas, e uma luz depois do escuro,
um rosto extremo do desejo obscuro
exilado em um nunca-apaziguar,

ainda um rosto de pedra, que só sente
a gravidade interna, de tão denso:
as distâncias que o extinguem lentamente
tornam seu júbilo ainda mais intenso.


Tradução: Augusto de Campos

Freud, O Delírio pelo Isolamento e pelo Convívio



O eremita volta as costas a este mundo; não quer ter nada a ver com ele. Mas podemos fazer mais do que isso; podemos tentar recriá-lo, tentar construir um outro em vez dele, no qual os componentes mais insuportáveis são eliminados e substituídos por outros que correspondam aos nossos desejos. Quem por desespero ou desafio parte por este caminho, por norma, não chegará muito longe; a realidade será demasiado forte para ele. Torna-se louco e normalmente não encontra ninguém que o ajude a levar a cabo o seu delírio. Diz-se contudo, que todos nós nos comportamos em alguns aspectos como paranoicos, substituindo pela satisfação de um desejo alguns aspectos do mundo que nos são insuportáveis transportando o nosso delírio para a realidade. Quando um grande número de pessoas faz esta tentativa em conjunto e tenta obter a garantia de felicidade e proteção do sofrimento através de uma transformação ilusória da realidade, adquire um significado especial. Também as religiões devem ser classificadas como delírios em massa deste gênero. Escusado será dizer que ninguém que participa num delírio o reconhece como tal. 


Rainer Maria Rilke

"Não busque por enquanto respostas que não lhe podem ser dadas, porque não as poderia viver. Pois trata-se precisamente de viver tudo. Viva por enquanto as perguntas. Talvez depois, aos poucos, sem que o perceba, num dia longíquo, consiga viver a resposta. Eduque-se para isto, mas aceite o que viver com toda confiança."

sábado, 16 de julho de 2011

Antônio marcos - Se eu pudesse conversar com Deus




Eu hoje estou tão triste eu precisava tanto conversar com DEUS
Falar dos meus problemas também lhe confessar tantos segredos meus
Saber da minha vida e perguntar porque ninguém me respondeu
Se a felicidade existe realmente ou é um sonho meu

Meu DEUS não sei rezar perdoe por favor
Perdi meu tempo aprendendo amar
Alguém que nunca soube o que é o amor

Eu sei que é impossível, mas eu queria tanto conversar com DEUS
Nestas horas tão tristes só DEUS me ajudaria a esquecer você
Mas sei que estou errado sou eu quem devo meus problemas resolver
Meu rosto está molhado de lágrimas cansadas de chorar por você

Carta

Carlos Drummond de Andrade




Há muito tempo, sim, que não te escrevo,
ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: olha em relevo,
esses sinais em mim, não de carícias

(tão leves) que fazias em meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida ao teu menino, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
"Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.

É quando ao despertar, revejo a um canto 
a noite acumulada de meus dias.
e sinto que estou vivo, e não sonho.
                                   
                                             (Lições de Coisas)

DANTE MILANO





O AMOR DE AGORA


O amor de agora é o mesmo amor de outrora
Em que concentro o espírito abstraído,
Um sentimento que não tem sentido,
Uma parte de mim que se evapora.
Amor que me alimenta e me devora,
E este pressentimento indefinido
Que me causa a impressão de andar perdido
Em busca de outrem pela vida afora.
Assim percorro uma existência incerta
Como quem sonha, noutro mundo acorda,
E em sua treva um ser de luz desperta.
E sinto, como o céu visto do inferno,
Na vida que contenho mas transborda,
Qualquer coisa de agora mas de eterno.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Dez Obstáculos

Separações, Parte I


Amor, orgulho ferido, desejo de vingança: as emoções que o divórcio traz à tona

Por Flávio Gikovate* 

Um dos sentimentos mais comuns depois de uma separação amorosa é a enorme curiosidade em relação ao destino do outro. Mesmo o parceiro que tomou a iniciativa fará de tudo para saber como o abandonado está passando. 

Esse interesse raras vezes resulta de uma genuí­na solidariedade. Decorre, na maioria dos casos, de uma situação ambivalente que lembra o mecanismo da gangorra. Por um lado, ver o sofrimento de uma pessoa tão íntima nos deixa tristes; por outro, satisfaz a vaidade. Num certo sentido, é gratificante saber que o ex-companheiro vive mal longe de nós e teve prejuízos com a separação. Esse aspecto menos nobre da personalidade humana, infelizmente, costuma predominar. 

Se o outro está se recuperando com rapidez, se busca novas companhias, mostrando-se à vontade na condição de descasado, ficamos surpresos e deprimidos. Percebemos que não somos tão indispensáveis quanto pensávamos. Nosso orgulho, então, é atingido, pois precisamos nos sentir importantes, precisamos saber que nossa ausência provoca dor. 

Se o outro estiver feliz, duvidamos de nós mesmos e isso é desgastante. "Como é possível que alguém se ajeite na vida mais rapidamente do que eu?", indagamos, e a certeza de que seme­lhante absurdo aconteceu nos deixa tristes. 

Muitas pessoas confundem essa tristeza com amor. Será que ainda estamos apaixonados? Será que a separação foi precipitada? Pode até ser. Mas o ingrediente principal de nossas emoções é a vaidade, o orgulho ferido. Às vezes, procuramos disfarçar esse sentimento menos nobre, escondendo-o por trás de uma inesperada dor de amor. É uma forma de negar pensamentos que não gostaríamos de ter.
*Flávio Gikovate é médico psiquiatra e escritor

Crédito:  Mais de 50

Separações, Parte II

Amor, orgulho ferido, desejo de vingança: as emoções que o divórcio traz à tona

Logicamente, o processo é mais acentua­do, pelo menos no início, quando não tomamos a iniciativa da separação. Nesse caso, a "sede de vingança" costuma ser explícita. Torcemos para que o outro só tenha relações afetivas desastrosas. Desejamos até mesmo sua ruína profissional. O objetivo dessa atitude é resgatar a autoestima. O fato de tudo dar errado para o ex-parceiro será a prova definitiva da influência positiva que exercíamos em sua vida. Sua felicidade, ao contrário, nos diminuirá. É como se, a partir da separação, fosse necessário encontrar o culpa­do pelo fracasso do relacionamento.

No entanto, esse mecanismo de comparação também é forte naqueles que decidiram se separar porque se apaixonaram por outra pessoa. Aí, entra em jogo outro tipo de vingança. Se alguém se sentiu, ao longo dos anos em comum, agredido, humilhado, rejeitado, agora é o momento de inverter a situação e sem nenhum esforço: apenas esperando que o destino faça justiça e o opressor se transforme em oprimido.

Não adianta pensar que nunca teremos pensamentos tão mesquinhos. Todos nós, em certas circunstâncias, estamos sujeitos a emoções que consideramos negativas e indignas. Elas se misturam com as mais nobres e formam uma amálgama extremamente complexa.

Amor, orgulho ferido, desejo de vingança... É difícil avaliar o peso de cada um desses ingredientes. Aliás, a diversificação de sentimentos também está presente durante a vida conjugal, quando um dos parceiros se recusa a agradar o outro apenas para não se sentir subjugado e diminuído. A rejeição sexual, por exemplo, pode ser vingada com a humilhação financeira ou vice-versa. 

Na hora do divórcio, todos esses processos se exacerbam. Eles geram a gangorra: quando a autoestima de um sobe, desce a do outro. Não basta ser feliz; é preciso que o outro não o seja. A gangorra pode perdurar por vários anos e até mesmo pela vida toda.

*Flávio Gikovate é médico psiquiatra e escritor

Crédito: Mais de 50   

Orgulho Ferido



Agora que vocês terminaram, você quer mostrar que era melhor, que era capaz e que aquela pessoa não prestava. Porque estava com ela então?

[texto unisex]

Você foi terminado. Pessoas orgulhosas demais, nunca irão aceitar essa condição. Você não admite perder e isso é fato, porém está diante de uma situação onde você saiu como "perdedor" e agora quer virar a mesa. Em geral, todos nós temos orgulho, alguns não se importam tanto com o que os outros irão pensar, mas outros, fariam qualquer coisa pra  deixar bem claro que não foram nada afetados por uma mera separação.
O problema, é que ao fazer isso, você acaba deixando mais que claro que é apenas orgulho ferido, e expõe seu caráter de forma ridícula.

Fui Eu!

O orgulhoso irá mentir. Mas ele irá mentir pra si mesmo antes de mais nada. Ele fará todo mundo acreditar que foi ele quem terminou o relacionamento, sem querer deixar transparecer que está abalado com isso. É claro, bem mais abalado com certeza do que o outro, já que na verdade, quem deu o golpe de misericórdia na relação, não deixando mais rastros de que vocês voltariam, foi a outra pessoa.

Você irá se gabar dizendo que não sente mais nada, e de tanto dizer isso, os outros irão realmente acreditar, e até uma parte de você. Quando alguém insinuar se você ainda gosta daquela pessoa, você irá negar no ato com bastante ódio. Grande sinal de que é tudo o contrário.

Perdi Meu Tempo!

A outra afirmação do orgulhoso, é sem dúvida alguma dizer que aquele relacionamento foi uma droga, e que ele perdeu totalmente seu tempo do lado daquela pessoa. O orgulhoso vai fingir na frente dos amigos, que precisa recuperar o que perdeu, e pode até arranjar alguém pra passar o tempo e tentar esquecer o ex, mas de fato, ele ficará incomodado porque não funcionará, e certamente irá se revoltar toda vez que ele se deparar com o ex e seu novo par. Quem sabe sua primeira reação é dar beijos e abraços no seu "passatempo", tentando mostrar que já superou tudo, quando na verdade, daria tudo pra estar com ele?

Sou Muito Mais Eu!

É, essa é a pior coisa que você pode dizer para seus amigos quando termina com alguém. Também não adianta colocar comunidades no seu Orkut, de "sou muito mais eu", porque vai dar na cara de que você está abalado, e embora seus amigos não digam pra você, certamente pelas costas eles irão comentar e pensar nisso. Pra te ajudar, seus amigos certamente irão dizer que por exemplo, a nova namorada do seu ex é horrorosa e sem graça, e que você é muito melhor e dava de dez a zero! Pura mentira...

Mesmo que seja um pouquinho verdade,  mesmo que você tenha mais beleza, vai estar na cara que é ciúmes e orgulho ferido seu. Você pode inventar mil defeitos e até saber tudo sobre o novo (ou  nova) namorado(a) da sua ex, contar defeitos, mas isso irá demonstrar ainda mais, que você perdeu seu tempo revirando a vida dele, procurando por comparações, o que deixa mais lógico que seu interesse pela ex é real. Como diz a música: Procuro evitar comparações, entre flores e declarações! E não ficar remoendo isso enquanto puder.

Sofri Nas Mãos Dele!

O que você sai fazendo depois que leva um fora, é tentar deixar claro pra todo mundo, o quanto você sofreu nas mãos do seu namorado, todas as coisas ruins que ele fez com você, e repete isso dezenas de vezes onde for.
Quando não se quer mais saber de um ex de verdade, tudo o que você faz é ignorar a existência dessa pessoa, e quando o assunto surge, você é a primeira pessoa a pedir que não se fale mais nisso. Mas quando temos alguém com orgulho ferido e paixão embutida, essa pessoa começa a difamar o quanto puder o ex, e falar tudo de ruim que aconteceu na vida de vocês, fazendo com que os outros pensem que ele era um monstro, e de tantos defeitos que ele tem, você simplesmente ignora os seus e faz parecer que ele era a pior pessoa do mundo e você uma santa penando nas mãos dele.

O Que Fazer?

Resumindo, vamos ver o que não devemos e o que devemos fazer quando terminamos um namoro, e não queremos mostrar que estamos com orgulho ferido, nem que estamos cuspindo no prato que comemos:

  •  Esqueça se ela não te ama
  • Não minta sobre quem terminou a relação
  • Não culpe o outro por todos os erros
  • Não fale mal da nova namorada ou coisa assim, só demonstra o contrário
  • Não fique apontando só os erros dele
  • Não fique enchendo suas redes sociais, msn, de comunidades e frases agressivas - é orgulho ferido
  • Não difame, isso é cuspir no prato que comeu. Seja agora o que você era com ele antes.
  • Não trate de forma diferente, só porque vocês dois não deram certo. É falta de caráter
Crédito Integral: UM OMBRO AMIGO
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