quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Uma grata recordação


Estávamos em um evento. Nós conhecemos solteiros, mas éramos casados naquele dia. Estava desacompanhado, ela na companhia do esposo. Estava mais velha, é verdade, mas a beleza dela - para o espelho da minha alma - ainda era a mesma dos primeiros tempos, quando nos conhecemos. Fui levado àquele evento sem ter ao menos tido tempo de tomar um banho, trocar a roupa e por lá aparecer devidamente trajado. Não sei, mas a impressão que eu tinha de mim mesmo, não era boa, sentia-me um desleixado. Fiquei inibido, não apenas pela simples presença dela, mas principalmente por causa dela.

Sabe, desde a juventude ela era, sem meias palavras, um tezão. Continuava sendo, mas estávamos casados. Vez em quando, em meio a uns camaradas, disfarçadamente olhava para ela, sem dar bandeira. Não sei o que se passava na mente dela, mas eu me imaginava como se tivesse perdido alguns traços da juventude.

Estava chegando o momento de muita gente ir deixando o local e não custou para ela sair em companhia do esposo. Tentei não ser notado, mas, de relance, nossos olhos se cruzaram. Me veio uma timidez terrível, dessas que nos deixa paralisado. Não sabia como fazer, até porque ela estava acompanhada. Parece que nossos olhos diziam algo.

Ela estava indo embora, quando resolveu parar e fazer o que ela tinha vontade de fazer e parou repentinamente. Desprendendo-se do braço do esposo, veio ao meu encontro. O modo como veio, naquele repente, marcou eternamente sua presença em minha lembrança. Tornou-se, definitivamente, inesquecível.

Nos abraçamos e trocamos beijos faciais, de cumprimento, seguido do "olá como vai ?" O gesto dela foi muito bonito, sugestivo e nunca esqueci, foi como recordar aqueles olhares inesquecíveis de belas passageiras, que das janelas dos ônibus flertavam, como quem fala, com os olhos a linguagem atraente do amor e da sedução, em breve instante de movimento, em um instantâneo, que nossas retinas guardam, como gostosas revelações do passado...

Havia em nós, naquele momento, um quê de algo que não morreu e que não soubemos fazer germinar. Ela  partiu. Perante meus olhos ela sempre será a mesma. São esses pequenos lances da vida que geram em mim a sensação de ter perdido algo de grandioso, talvez, quem sabe, não fosse ela, meu grande amor?!

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