Rosto da Solidão
Solidão: O confinamento da vida - A pior solidão não é a ausência da realização de determinados desejos ou fantasias, mas principalmente a anulação de determinado potencial ou habilidade.
"O homem solitário se devora a si mesmo, o outro é devorado pela sociedade, então escolhes". (NIETZSCHE).
Quando pensamos na solidão, a primeira idéia que passa por nossa mente é se temos ou não verdadeiros amigos, a qualidade de uma relação afetiva que estamos vivenciando, o quanto somos estimados ou procurados por quem sentimos afeição ou apreço. Embora tudo isso seja bastante natural, gostaria de enfatizar nesse estudo a relação da solidão com a própria personalidade do indivíduo. Quero dizer não apenas de algo existencial, mas tão somente como cada um direciona sua meta de vida.
Talvez não nos demos conta, mas um dos atributos de nossa sociedade que mais contribuem para o aumento da solidão é o confinamento de papéis em que vivemos diariamente. Somos treinados desde os primórdios a agirmos de acordo com determinadas expectativas ou deveres sociais. Caso haja uma transgressão, o resultado quase sempre é culpa ou ansiedade. Isso se dá no âmbito profissional, social e pessoal, e quase sempre aceitamos os fatos como nos são apresentados.
Se investigarmos um pouco a fundo o comportamento cotidiano do homem contemporâneo, confirmaremos o exposto acima. Quase nunca conseguimos ligar para alguém quando temos vontade, pois ficamos preocupados com o que a pessoa pense a nosso respeito; quase nunca podemos nos entregar verdadeiramente a algo ou alguém, pelo terrível temor da perda, isso apenas para citar alguns exemplos.
Se formos para o campo profissional a coisa não é menos aterradora. É um verdadeiro drama descobrirmos nossas verdadeiras potencialidades e conseguirmos sua realização. Nesse ponto reside outro aspecto fundamental da solidão, a não descoberta ou realização da potencialidade de um ser humano. Notem que isso passa a ser uma espécie de condenação, pois jamais conseguiremos ser ótimos em algo, e o que resta é a aceitação resignada de um trabalho totalmente desprovido de prazer ou meta mais ampla. Nos sentimos então absolutamente sós e desamparados, pois assistimos nossa castração de forma absolutamente indolente e criminosa, pois tentamos compensar tal fato buscando talvez a segurança econômica.
Vamos pensar pela seguinte ótica: Se alguém não consegue atuar seu maior talento ou habilidade perante a sociedade, imaginem o que esta última não fará acerca das imperfeições desse mesmo indivíduo? É nesse exato ponto que deveríamos nos questionar sobre o seguinte: O que se tem feito acerca da solidão e conseqüente ódio interno resultante? Apenas se tem caminhado para o egoísmo e rigidez excessiva da disciplina, visando que outros tenham também um mundo tão sombrio e angustiante?
É fundamental que todo ser humano esteja atento ao modo como enfrenta etapas cruciais em seu desenvolvimento, desde a tenra infância como a entrada na escola, passando pela adolescência, escolha profissional e a questão do amor. O que foi descrito anteriormente sobre o potencial não efetuado, remonta a um estilo de vida que chamaria de "projeto da desistência", ou seja, a pessoa vai tolhendo seu próprio potencial, seja desistindo ou não encontrando sua vocação, seja não se satisfazendo afetiva e sexualmente. Com toda a certeza essa deve ser uma das maiores pragas psíquicas de nossos tempos. Como resultado temos a total solidão e duas variáveis que produzem os maiores índices de ansiedade: a impotência e o medo em quase todas as esferas da existência.
Escolher a solidão é esconder as carências mais profundas, por vergonha ou medo de que alguém descubra o quanto um ser humano pode estar faminto de afeição. A solidão é uma tentativa surrealista de se tentar controlar o processo do amor. A mágoa maior não é resultante de uma relação que não deu certo, mas principalmente por nunca termos nenhum controle sobre futuras paixões ou decepções, sendo que a solidão é a tentativa desesperada para se colocar um freio nesse processo.
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