domingo, 11 de julho de 2010

Pomposo nome: ESPAÇO UNIBANCO GLAUBER ROCHA

Ter nascido no mesmo dia e mês em que castro Alves nasceu era motivo de orgulho para Glauber. Coincidentemente o borbulhar do gênio foi perceptivel em ambos.

Glauber pode ser revisto antes e depois do exílio. Seus relacionamentos conjugais não foram bem sucedidos. Todo homem tem uma Eugênia Câmara na vida e morre, quase sempre, intimamente, quando quer responder a pergunta que não cala: que quer uma mulher? Popularmente diz-se que "mulher gosta de dinheiro, quem gosta de pica é veado". Mas a resposta não seria esta.
A solidão foi sua companheira em diversos momentos. Entediava-se com os seus monologos, idéias e planos represados. Não havia internet. Telefonemas custavam muito e Glauber andava economicamente fodido. Escrevia como que busca dialogar e fugir do vazio torturante da solidão . Suas cartas quase sempre estão embriagadas de ilusões, principalmente no terreno da política. Queria ser governador e o mundo girava em torno dele a da geração MAPA/Jogralesca, que, diga-se de passagem, é composta por figuras de proa da intelectualidade baiana. Também aspirava ser ministro de Estado em meio a outros tantos devaneios. Dizem que a genialidade faz fronteira com a loucura e todo gênio tem que ser codimentado por acessos de loucura.
Compreendido por uns, incompreendido por outros, vítima da direita e de certos setores de esqurda, ele parecia não se deixar abalar. Rompia o silêncio atormentador que a solidão lhe impunha escrevendo cartas, quase sempre com bafejos do que ele mais condenava que é a bajulação. Ele sabia que era imperativo à sobrevivência dele afagar o ego de quem detinha qualquer dose de influência e poder.
Considerava-se um revolucionário e foi, realmente. A caracteristica principal era a irreverente rebeldia. Tinha que conviver com suas contradições. Cinema não comercial não rende e a liberdade de Glauber era tão imensa quanto as verdades que muitas vezes era obrigado a silenciar e, quando assim não fazia, provocava desconforto para uns e contentamento para outros. Irreverentemente divertido. Cheio de sonhos e ilusões, como o poeta Castro Alves. Romântico sem querer parecer que era. Teve suas paixões e a única que lhe correspondia era a sua arte. 
A solidão leva o pensamento ao monologo depressivo, entediante, desastros. Para fugir, sentia necessidade de escrever e de se corresponder. Não podia aprisionar seus monologos nem eterniza-los, pois a eternização deles seria a conivente aceitação da loucura.
Joca, João Carlos Teixeira Gomes, era pra ele um confidente. Um ser que lhe compreendia e correspindia e que falava a linguagem do gênio, comedidamente, é verdade, mas do mesmo modo, irreverente e irônico.
Os dramas pessois de Glauber não podem ser avaliados pelo que escreveu, mas pelo que não deixou escrito. Ele queria ser sincero, absolutamente honesto, mas sabia que seria ingênuo se assim fosse. Logo seria intelectualmente castrado e não poderia fazer florescer sua obra. Então tinha que conviver com suas próprias contradições, o que o deixava agoniado, irriquieto. Em sua cabeça borbulhava idéias mirabolantes que logo eram frustradas pela realidade. Fez o que pode, enquanto pode. Aos poucos, de ilusão a ilusão, ia se desencantando, ainda que não revelasse explicitamente seu desencanto com a vida. Antevia a própria morte e pedia a Joca que escrevesse um epitafio para ele, no Jornal da Bahia, caso viesse a falecer.
A sua morte causou consternação e muita gente se perguntava: morreu de quê? E esta interrogação nunca foi correspondida e devidamente aceita. Entretanto, todos preferiram sepultar a pergunta e aceitar a realidade da morte e a imortalidade dele, através das suas obras.
Hoje é desalentador ver o antigo Guarani, que virou Glauber Rocha, ser precedido pelo nome ESPAÇO UNIBANCO, o que prá ele seria uma capitulação,dos amigos revolucionários, ao mundo capitalista. 

Criaram o Espaço Unibanco e emprestaram seu nome a obra restauradora.O mérito restaurador é indiscutivel. Mas quem investe quer retorno, até para justificar a manutenção do cinema, que virou "espaço". Glauber que se dizia cósmico, tornou-se mero espaço. Nem o epitáfio que desejou, após a morte, lhe colocaram: É um espaço capitalista de entretenimento, que busca o retorno de um investimento, retorno que Glauber não tinha, vez que sua arte não era comercial. Aonde estiver, deve estar puto da vida. Pior: não pode mais corresponder-se com seus amigos para reclamar o acinte. Do ponto de vista capitalista, o UNIBANCO nada fez de errado. Como filantropia, enquanto filantropia, melhor seria que a mão esquerda não visse o que a direita faz. Mas todos viram e calaram, como tudo o mais que acontece no mundo cultural baiano. Aqui é a terra dos negócios e dos negociantes. Até quando, só Deus sabe!


Façam uma busca no Google e vejam como o nome do cinema é apresentado: 

Salvador - Unibanco Cinema ou Espaço Unibanco de Cinema Glauber Rocha. Como o baiano gosta de abreviar nomes longos, o cinema vai virár UNIBANCO simplesmente. Se invertesse e colocassem: Cine Glauber Rocha, Espaço Unibanco, eu até aceitaria. Mas quem vai reclamar de um banco que muita gente precisa quando apresenta seus projetos ? dependência é foda, pior é submeter-se e depois sair por ai com pose de bacana.São os vícios da cultura, ou a cultura dos vícios. Pouco importa, a dependência é uma só e é rídicula porque persiste. Piora quando o dinheiro público patrocina tudo, principalmente as mercadorias das elites, como artigos populares. 



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