domingo, 11 de julho de 2010

Não daria pra ser Jornalista



Não poderia ser jornalista por diversas razões. A mais importante seria a de não poder expressar meu pensamento responsável livremente, tendo que vê-lo censurado, por conveniências de donos de jornais, que vivem dependentes de variados recursos financeiros Faturam às custas dos jornalistas, que por sua vez devem atender a uma linha editorial hipócrita.

Jornalista que conhece muito sobre os donos de jornais, ou sobem institucionalizados, ou caem penalizados. Os bajuladores, que se comportam como vaquinhas de presépio, ou ficam estagnados na carreira, ou ascendem a posições de comando. 
E aquela história do jovem jornalista, afilhado de um importante político, que foi recomendado ao dono de um grande jornal carioca. A entrevista foi rápida e caceteira. O dono do jornal disse ao jovem que fizesse uma redação sobre Jesus Cristo e voltasse na semana seguinte. O jovem, antes de sair, fez uma única pergunta: - o senhor quer que eu fale contra, ou a favor? Saiu de lá contratado. 
Nem sempre é assim, mas assim me parece. Também tem o aspecto da concisão, que acaba transformando a informação em algo muito sintético, acadêmico e pedante.Gosto, por exemplo, do estilo prolixo de Caetano e do estilo bonito, de João Ubaldo. Não teria graça alguma ler Caetano, João Ubaldo, Joca e tantos outros, de modo sintético, ou acadêmico.
Eu, particularmente, não aspiraria ascender a uma posição de mando para não me converter exatamente naquilo que nunca desejei ser, ferindo minha ética e rasgando meus princípios, em troca de um posto que melhor seria ocupado por quem tem o tino, ainda que enrustido,  para anular-se. Também é triste ver um libertário convertendo-se em censor. Sujeições da vida ? C´est la vie !
Glauber em suas invocações, típicas da geração MAPA, recomendava a Joca que revolucionasse o Jornal da Bahia, naquela época anti carlista, contratando jovens para o exercício jornalístico. A juventude é excelente porquanto pura e avessa à hipocrisia e os comedimentos típicos dos mais experimentados. Na verdade Glauber queria dizer: Joca, ponha vários Glauber por ai! Maturidade se adquire com o tempo; Não a maturidade fisiológica e oportunista que acomete os vaidosos. Seria, realmente, ótimo se os jovens pudessem ser o que são e dizer o que entendem ser necessário dizer, falando o linguajar do povo, não das elites. Seria fantástico ler um jornal que primasse pela liberdade de opinião do jornalista. Mais os jornais possuem filtros...
Pra mim não daria certo escrever coisas do jeito que as nossas elites gostam, principalmente a elite baiana, tão ridícula, quanto provinciana. Basta recordar o que Castro Alves escreveu, através de carta, a Eunápio Deiró, quando este o convidou para escrever em seu folhetim.

Louvar o que bem merece e não ignorar, nem jogar debaixo do tapete, as sujeiras de quem quer que seja, deveria ser um ideal de todo jornal que se preza, mas não é assim. Saber disso não me faz bem. Esconde-se a sujeira de quem paga o que o jornal precisa, e divulga-se notícias de quem nada tem a oferecer. Várias vezes observamos jornais e não jornalistas, chantageando o poder para dele favorecer-se. Jornais endividados até o pescoço que, para manter o ganha-pão dos donos, vende-se, negocia, barganha e no final, tudo bem Preza-se mais o lucro do comércio das noticias e dos negócios, que a honorabilidade da empresa, e, quando as finanças vão mal, faz-se acordo até mesmo com o Diabo.Não daria certo, pra mim. Logo seria demitido e teria dificuldades para arrumar um novo emprego. Escrever a verdade permitida pelos fatos nem sempre é possível quando a verdade dos fatos incomodam os que aferem lucros aos donos de jornais.

Reconheço o jornalismo como a arte do equilíbrio e o jornalista é como um bêbado querendo manter-se na linha de equilíbrio, entre ele e o jornal.

Ser jornalista é como ser ator: tem que representar seu papel, sem se deixar corromper. Tem que caminhar sobre o fio da navalha. Não pode escorregar. E duro!

Bons tempos foram os do Correio da Manhã, com Niomar Moniz Sodré, mulher altiva, e que tinha em seus quadros um Carlos Heitor Cony a escrever verdades que incomodavam os ditadores. 
Mas essa era uma outra época que exigia coragem e altivez, tanto dos donos de jornais, quanto dos jornalistas, que sabiam qual seria o destino final dos jornais, que não se curvavam, diante do poder. Sabiam, os jornalistas, que haveriam que pagar um alto custo por defenderem a liberdade de expressão e, ainda assim, muitos não se renderam e, talvez por assim serem, tenham chegado aonde chegaram. Era o tempo em que as pessoas abraçavam causas com amor, tempo em que havia muitas reservas morais neste país continental. A ditadura prejudicou muito o jornalismo, em meu entendimento.

Definitivamente não daria pra ser jornalista, porque não tenho uma alma acomodada. Como Hamlet, ainda que preso dentro de uma casca de noz, meu pensamento seria infinitamente vasto e maior que as barreiras impostas.

Enfim, ser jornalista, principalmente na Bahia, que continua tão dessemelhante, com tantos negócios e tantos negociantes, não daria certo. A vontade é de soltar o verbo e desnudar tantas mazelas, mas isso me causaria bem e também um mal. Sei que não mudaria muita coisa. Apenas teria que pagar o elevado preço de preservar minha liberdade de opinião intacta.

Mas, se assim me ocorresse, de nada reclamaria, nem buscaria ajuda em sindicato. Calado seguiria minha jornada, contente e feliz, como os seres que possuem alma apaziguada.
Enfim, só a verdade é que liberta! O preço da minha liberdade seria o mesmo de quem experimentou viver na miséria.



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